Na idade do parto industrializado, a mãe não tem o que fazer. Ela é uma “paciente”

"A industrialização do parto entrou numa nova fase em meados do século XX. Isto se deveu a uma série de avanços técnicos e tecnológicos. Na década de 50, a técnica moderna da cesariana de incisão baixa substituiu, pouco a pouco, a clássica. Essa nova técnica cirúrgica, associada ao advento de métodos de anestesia pós-guerra; à organização de transfusões de sangue à disponibilidade antibióticos, transformaram a cesariana numa operação confiável.
Na década de 70, os partos hospitalares se tornaram a norma e um grande número de obstetras autônomos e cirurgicamente treinados começaram a exercer sua profissão com uso de monitores fetais eletrônicos na sala de parto. Cada vez mais uma rede complexa de tubos e fios em torno da parturiente, com infusão de ocitocina sintética. O ambiente das salas de parto estava transformado, as mulheres passaram a dar a luz num ambiente eletrônico.
No final do século XX, no auge da era eletrônica, a história do parto industrializado deu outro passo. Desenvolveu-se a anestesia peridural. Antes da década de 80, a técnica já estava estabelecida, mas haviam obstáculos de ordem prática para sua utilização generalizada. Os anestesistas haviam sido treinados originalmente para possibilitar operações cirúrgicas, mas não para intervir durante um processo fisiológico. Além do mais, a prática da anestesia peridural consome tanto tempo em horas imprevisíveis do dia ou da noite, que pouquíssimos hospitais podiam oferecer um serviço por 24 horas diárias. Foi por isso que o desenvolvimento rápido da anestesia peridural teve que esperar até a década de 90, quando se dispunha de um número suficiente de praticantes, e também quando as técnicas mais sofisticadas de “peridural deambulante” haviam sido avaliadas.
No raiar do século XXI, apenas maternidades grandes podem oferecer um serviço baseado na presença de obstetras, anestesistas e pediatras 24 horas por dia. É por isto que, na Europa Ocidental, o número de partos por dia é, em média, de 10 ou mais em muitos hospitais, enquanto que no continente americano pode ultrapassar 20. Investimentos enormes têm sido necessários, frequentemente, pra projetar e construir maternidades suficientemente grandes.
A concentração nos grandes hospitais não é a única característica do parto industrializado. Também existe uma tendência notável rumo à padronização. “Rotina” e “protocolos” representam palavras-chave na obstetrícia moderna. Na cabeça de muita gente, além da cesariana, que pode ser planejada ou decidida durante o trabalho de parto, existe um parto “normal” quase padronizado. No caso de um parto “normal”, a mulher recebe uma peridural e ocitocina intravenosa, enquanto o bebê é monitorado eletronicamente. É normal que um tubo seja inserido pela uretra para esvaziar a bexiga. Durante as últimas contrações, a utilização de uma ventosa (ou fórceps) é associada a uma episiotomia. No momento preciso em que o bebê nasce, administra-se uma droga rotineiramente para contrair o útero, permitindo a expulsão da placenta".

* Adaptado de “O camponês e a parteira”, de Michel Odent. Retirado da Revista Estudos Feministas, vol.10, no.2 Florianópolis Julho/Dez. 2002

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